Plinio Marcos é fundamental
“Não faço teatro para o povo, mas faço teatro em favor do povo. Faço teatro para incomodar os que estão sossegados. Só para isso faço teatro.”
No sábado fomos ao Teatro Garagem assistir Navalha na Carne, peça que Plinio Marcos escreveu em 1967. Faz, portanto, 50 anos. E parece que foi escrita ontem.
Plinio Marcos é atemporal, como Machado de Assis. Sua genialidade transcende gerações. O seu talento em retratar os miseráveis, os mal aventurados da sociedade não tem paralelo. Talvez não haja otimismo em suas peças, mas para a grande maioria das pessoas que neste planeta vivem otimismo é um conceito longínquo. Basta andar pelas ruas de São Paulo – Cidade Linda, segundo o midiático alcaide – para perceber isso.
Assisti a várias peças do Plinio Marcos. Vi Barrela, uma das suas primeiras, sobre o sistema prisional, com uma atuação fantástica do ator Jairo Mattos. Dois perdidos numa noite suja vi no teatro Orion, no centrão. Abajur lilás, outra peça fantástica. Meu pai era conhecido do Plinio Marcos, e na lembrança de criança lembro-me dele vendendo seus livros em porta de teatro. O romance Querô, que meu pai tinha em sua biblioteca, me marcou profundamente, li quando era adolescente, e mais tarde vi a sua adaptação ao cinema. Quando frequentei o Centro de Cultura, fiz uma leitura dramática da sua peça Quando as Máquinas Param, sob a direção do grande Fábio Ferreira Dias, sobre a relação de um jovem casal que vai se deteriorando devido ao desemprego e a crise econômica. Mais atual impossível.
Já havia visto Navalha na Carne outra vez, não lembro quando. A relação entre uma prostituta, seu cafetão e um serviçal homossexual em um quarto de pensão são desnudadas, as suas mútuas humilhações, as micro relações de poder entre personagens que por si só são excluídos da sociedade, revelando a profundeza, nem sempre bela, da alma humana.
Enquanto houver excluídos e explorados em nossa sociedade, Plinio Marcos será fundamental. E pelo andar da carruagem, cada vez mais fundamental.
Sobre o espaço Teatro Garagem
Espaço pequenino – apenas 25 lugares – e intimista, idealizado pela atriz Anette Naiman, é um sobrado adaptado que outrora foi a residência da própria atriz. Lugar muito bacana, inclusive no sábado o elenco convidou o público para um vinho na casa, em razão dos 50 anos da peça. Espaço aconchegante, pessoal interessante e simpático. Um sábado muito legal.
Miss Sloane – Armas na mesa
Filme de 2016, Miss Sloane (tradução, Armas na mesa) é um daqueles filmes com diálogos rápidos (ele realmente prende a atenção), protagonizado pela excelente Jessica Chastain (que concorreu ao Oscar este ano). O filme conta a história de uma lobista que faz tudo para alcançar seu objetivo: influenciar no resultado da lei anti-armas.
E mostra ao longo das cenas as artimanhas que ocorrem nos bastidores de uma das maiores industrias americanas: a do lobby. No Brasil esse tipo de negócio não é regulamentado, as influências corporativas no meio público se estabelecem extra oficialmente. Já em solo americano, uma das maiores empresas do ramo, a Squire Patton Bogss emprega por volta de 600 pessoas e tem como clientes mais de 60 países (fonte: GGN). Tudo tem que acontecer registrado e há regras que não podem ser quebradas, como pagar vantagens aos políticos, por exemplo. É claro que tudo é burlado e isso é mostrado no filme.
Vale muito assistir ao filme e pensar o quanto é cruel as relações promíscuas entre políticos que só pensam nas reeleições e empresas empenhadas nos seus próprios interesses. Abaixo o trailer:
Estudar ou não estudar? Eis a questão.
No mundo de hoje o que mais recebemos durante o dia é informação superficial. Neste caso, estudar é a melhor maneira de obter conhecimento.
Estava lendo alguns textos sobre produção de conteúdo na internet e me deparei com a seguinte explicação: “a internet é feita de dados, que são a matéria-prima da informação e ela que você busca quando digita um w.w.w.. Hoje chamamos a informação de conteúdo e, dependendo das competências cognitivas do usuário/leitor, tudo isso torna-se conhecimento”. Mas para quem acha que conhecimento é tudo que se recebe vindo da internet está cometendo um erro. Vou explicar melhor.
Antigamente, você podia sentar no sofá com seu avô, sua tia, seus pais e eles começavam a contar histórias de vida, “causos” históricos, de família, curiosidades. Minha avó era assim. Estas histórias são conhecimento. Agora ninguém da família tem tempo para isso. Os pais chegam em casa e têm que fazer muitas coisas…os filhos estão ocupados (não importa a idade), porque fazem várias atividades extras e ainda têm que fazer lição de casa, dar uma olhadinha no Facebook, conversar com o amigo no Whatsapp. E a frase mais ouvida em casa é: ” tô ocupado”.
Por isso, se você tem a intenção de voltar a estudar, não pense duas vezes. Digo isso porque estudar é uma das únicas maneiras de você parar um tempo, sentar numa cadeira, se concentrar num assunto e poder entender sobre aquele tema de uma forma mais profunda.
Faça uma especialização, um mestrado (assim como eu, aos 40 anos) ou qualquer curso que vai oferecer a oportunidade de aprofundar um conhecimento sobre algo. Diante tantas informações superficiais, repetidas e às vezes mentirosas, quando você pega um livro de um bom autor (que te ajuda a pensar), você exercita o pensamento e estimula sua capacidade de refletir sobre várias coisas do tema e da vida.
Não se deixe ser bombardeado o dia inteiro (porque mesmo não querendo é inevitável) por informações irrelevantes, que não contribuirão com nada. Exercite sua mente.
O que você sabe sobre o suicídio?
No mundo
Você já conheceu alguém que cometeu suicídio? Eu pelo menos conheci umas três pessoas no meu círculo de relacionamentos. O tema sempre foi um tabu e talvez por isso não saibamos alguns detalhes sobre este tipo de morte.
Um artigo publicado na Revista Brasileira de Psicologia em 2015, revela que o suicídio é um fenômeno mundial e é considerado um significativo problema de saúde mental. Para se ter ideia, a taxa de mortes por suicídio foi de 1,5% do total de óbitos no mundo, ou seja, houve mais mortes deste tipo do que assassinatos e mortes por guerras ocorrido num ano.
A OMS (organização mundial da saúde) ainda acredita que este número seja maior, devido as falhas de registros nos países. É a segunda causa de mortes de jovens no mundo. “Países populosos como Índia, China e Brasil, apesar do grande números de casos, apresentam baixas taxas de suicídio”, diz a pesquisa.
A Guiana, um pequeno país com a população aproximada de 800.000 que fica ao norte da América do Sul é onde há a maior taxa mundial de suicídios no mundo (ver reportagem BBC). Segundo a reportagem, as causas geralmente são “desavenças familiares, problemas de relacionamento e violência doméstica”.
Um dado levantado pela OMS é que 75% casos de suicídio se dão em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, apontando para uma correlação entre situação econômica e taxas de suicídio, ainda que esta não seja determinante.
Em relação a idade está havendo uma inversão na distribuição de casos. Os jovens na faixa etária de 5 a 44 anos cometem mais suicídios que os adultos com idade acima de 45 anos e essa tendência parece se manter nos próximos anos.
O suicídio é mais comum entre homens e a tentativa de suicídio entre as mulheres (dados observados historicamente). Estima-se que a cada morte por suicídio de adulto ocorram ao menos 20 tentativas de suicídio, o que representa uma tentativa de suicídio a cada segundo, sendo esta, o principal indício de suicídio.
No Brasil
-
Suicídio é responsável pela morte de 3,7% dos jovens (15 a 29 anos);
-
Região Norte é onde se concentra o maior números de mortes por suicídio;
-
Os homens cometem mais suicídios do que as mulheres;
-
Local: a própria casa é o cenário mais frequente (51%), seguida pelos hospitais (26%).
-
Os principais meios utilizados são enforcamento (47%), armas de fogo (19%) e envenenamento (14%). Entre os homens predominam enforcamento (58%), arma de fogo (17%) e envenenamento por pesticidas (5%). Entre as mulheres, enforcamento (49%), seguido de fumaça/fogo (9%), precipitação de altura (6%), arma de fogo (6%) e envenenamento por pesticidas (5%).
É importante estar atento aos sinais prévios do suicida: mudança de comportamento, depressão, angústia, desinteresse e não subestimar quando uma pessoa diz que quer cometer o suicídio. Muitas vezes pensamos que se trata de algum problema pontual, mas pode ser alguma coisa mais grave e por isso vale toda a atenção.
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e Skype 24 horas todos os dias.
Mesóclise
“os poderes constituídos rir-se-ão da vontade popular enquanto ella se manifestar dentro dos limites da lei”
A Plebe, 11 de Junho de 1921
Atualíssimo.
(A imagem destacada deste post na página principal é do artista polonês Marcin Owczarek.)